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Vera Canhoni

Delinquência e privação da vida familiar: Winnicott em pequenas doses 

Delinquência e privação da vida familiar: Winnicott em pequenas doses

 

No texto “Alguns aspectos psicológicos da delinquência juvenil” Winnicott pretende dar uma descrição simples, no entanto, exata, de um aspecto da delinquência. Isso pode ser proveitoso para aqueles que desejam entender as raízes do problema do delinquente.

A compreensão do crime como doença psicológica é um assunto gigantesco e complexo, mas Winnicott tentará dizer algo simples a respeito de crianças anti sociais e da relação da delinquência com a privação da vida familiar.

Nas palavras de Winnicott:

Vocês sabem que na investigação dos internos de um reformatório, o diagnóstico pode variar segundo uma escala que vai de normal (ou saudável) a esquizofrênico.

Entretanto, existe algo comum a todos os delinquentes. De que se trata?

Numa família comum, homem e mulher marido e esposa, assumem a responsabilidade conjunta pelos filhos. Os bebês nascem, a mãe (apoiada pelo pai) vai criando os filhos, estudando a personalidade de cada um defrontando-se com o problema pessoal de cada um na medida em que afeta a sociedade em sua menor unidade, a família e o lar.

Como é a criança normal? Ela simplesmente come, cresce e sorri docemente? Não, não é assim.

Criança saudável – confiança ambiental

Uma criança saudável se tem a confiança do pai e da mãe, usa de todos os meios possíveis para se impor; com o passar do tempo põe a prova o seu poder de desintegrar, destruir, assustar, cansar, manobrar, consumir e  apropriar-se.

Se o lar consegue suportar tudo o que a criança pode fazer para desorganizá-lo, ela sossega e vai brincar. Precisa estar consciente de um quadro de referência se quiser sentir-se livre e ser capaz de brincar.

No entanto, ao constatar que o quadro de referência (estabilidade externa) de sua vida se desfez, ela deixa de se sentir livre; torna-se angustiada e se tem alguma esperança trata de procurar outro quadro de referência fora do lar: recorre aos avos, tios, tias, amigos da família, escola.

Estabilidade para a dependência e independência

Fornecida em tempo oportuno, essa estabilidade poderá ter crescido na criança como os ossos de seu corpo, de modo que, gradualmente, no decorrer dos primeiros meses e anos de vida, terá avançado, da dependência e da necessidade de ser cuidada, para a independência.

Quando ajudada nos estágios iniciais pelo seu próprio lar a criança desenvolve a capacidade para se controlar. Desenvolve o que é denominado por vezes “ambiente interno” com uma tendência para descobrir um bom meio.

 

Psicoterapia psicanalítica para (re) inventar o viver

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In: WINNICOTT, D. W. Privação e delinquência

 

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