Amor: Amar e esperar: o feminino em análise
Tão estranho que depois de tanto tempo e tanta mágoa pudesse pensar no amor. Amanhecera vazia, sem ninguém dentro de si mesmo, e foi como se encheu com a ideia de afinal ser impossível esquecer o amor.
Porque o amor era espera e ela, sem mais nada, apenas esperava. A Isaura sabia que amava alguém por vir, amava uma abstração de alguém no futuro. Ela esperava o futuro, e esperar era já um modo de amar.
Esperar era amar.
Certamente, amava de um modo impossível o futuro.
Disse: eu pensava que o amor era bom. E chorou sem qualquer convulsão porque aceitou chorar. Aceitou chorar. Havia muito que não o fazia.
Talvez tivesse percebido que a natureza era, toda ela, uma expressão exuberante e que manifestar os seus sentimentos seria uma participação ínfima nessa honestidade do mundo.
Talvez tivesse percebido que usava da honestidade consigo mesma pela primeira vez em muitos anos.
Disse: estou sozinha. E repetiu: estou sozinha. Desatou a falar com se não suportasse mais a boca fechada.
Era uma mulher carregada de ausências e silêncios. Para dentro da Isaura era um sem fim e pouco do que continha lhe servia para a felicidade. Para dentro da Isaura a Isaura caía.
Valter Hugo Mãe
Mãe, V.H. O filho de mil homens. São Paulo: Cosac Naify, 2013