Sujeito da psicanálise: ser de cultura – Degustação Psicanalítica
Sujeito da psicanálise – ser de cultura
O sujeito da psicanálise é sempre ser de linguagem, isto é, de cultura, isto é, inscrito sob as coordenadas de um certo período histórico, de uma certa sociedade, de uma certa disposição simbólica.
Não existe ser que anteceda à linguagem, à ordem social e às suas formações no tempo. O sujeito de que trata a psicanálise, tenha ou não existido algum outro antes dele, é, por definição, um ser de cultura, constituído numa dimensão histórica e simbólica que o antecede sempre.
Sujeitos se singularizam – alterações no simbólico
Assim, o modo como os sujeitos se singularizam e se manifestam, pelo uso da língua, ao longo de suas vidas, produz alterações no simbólico que serão significativas para os que virão depois deles.
A criação da psicanálise e as enormes modificações que ela trouxe para a cultura e a vida cotidiana no século XX são comprovações desse argumento.
As mulheres que procuram a clínica psicanalítica no final do século XX não são as mesmas que procuraram Freud no final do século XIX.
Isto não significa que a metapsicologia freudiana esteja ultrapassada, ma sim que a teoria psicanalítica deve ser plástica o suficiente para acompanhar e compreender as mudanças sofridas pelos sujeitos à medida em que muda a sociedade em que vivemos.
Se a produção psicanalítica contemporânea não puder acompanhar esses deslocamentos, a psicanálise deixara de fazer sentido.
Psicanálise – escuta do recalcado e voz ao emergente
A psicanálise nasceu para dar voz ao emergente e não para corroborar a tradição.
A psicanálise não é somente a escuta do recalcado no sentido vivido/traumático, é também a escuta do emergente, do que ainda não foi dito ou procura uma formulação, que cada sujeito tem a dizer a partir de sua experiência pessoal e intransferível.
“Realizar” o desejo, sabemos desde Freud, é dotá-lo de expressão.
Maria Rita kehl
Kehl, M.R. O deslocamento do feminino: a mulher freudiana na passagem para a modernidade. Rio de Janeiro, Imago, 1998.