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Vera Canhoni

Barros e o nada a dizer: modo de ficar a brincar – Bordas do inconsciente

Barros e o nada a dizer: modo de ficar a brincar – Bordas do inconsciente


Deixei que as palavras me cuidassem
A voz da poesia tem que chegar ao nada para aparecer

Só fui reconhecido quando não tinha mais nada para dizer – e fiquei a brincar


O dia em que só faço nada é fecundo
Hoje sei que os verbos deliram – e isso é uma coisa saudável para a poesia
 
Traduzir poesia é sempre difícil, nós sabemos
Traduzir a minha não será diferente


Penso que o tradutor tem de possuir a infância da língua que vai verter
Será bom ter um adoecimento de criança

No meu caso adoecer de rios e de rã e de planta e de caramujos


Haver bem a promiscuidade da criança com os seus bichos, com suas aves, como seus brinquedos
Porque o que escrevemos leva sempre pela frente um terreno sujo de nossa infância


E “a infância é o poço do ser”, como diz Bachelard
Queria dizer que possuir a infância da língua seria conhecer bem o poço do poeta a ser traduzido


Saber das misturas da criança que ficam nos sonhos do homem


Manoel de Barros

 

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