Reflexos para refletir: paradoxos do eu – não-eu – Travessias
O imperador da China perguntou a um famoso mestre budista se seria possível ilustrar de uma maneira visível a natureza do eu.
Em resposta, o mestre mandou recobrir uma sala com espelhos de alto a baixo, que ficavam exatamente um diante do outro.
No centro, ele colocou uma vela acesa.
Quando entrou na sala o imperador pôde ver a chama dessa vela em milhares de formas, cada um dos espelhos reproduzindo-a infinitas vezes.
Então, o mestre substituiu a vela por um pequeno cristal.
Mais uma vez o imperador pôde ver o pequeno cristal refletido em todas as direções.
Quando o mestre lhe sugeriu que olhasse o cristal de perto, o imperador viu, em cada uma das pequeninas facetas do cristal, toda a sala com os milhares de cristais refletidos.
O mestre mostrou como a menor partícula contém o universo todo.
O verdadeiro vazio não é vazio; ele contém todas as coisas. O vazio misterioso e fecundo cria e reflete todas as possibilidades.
Dele surge a nossa individualidade, que pode ser descoberta e desenvolvida, embora nunca possuída ou fixada.
O eu está contido no não-eu, assim como a chama da vela está contida num grande vazio.
As grandes capacidades do amor, do destino único, da vida e do vazio se entrelaçam, brilhando, refletindo a verdadeira natureza da vida.
Kornfield. J. Um caminho com o coração. São Paulo, Cultrix. 2014.