Recordar, repetir e elaborar – parte 4/4
Na perspectiva psicanalítica, a transferência (processo através do qual os desejos inconscientes do paciente se atualizam no campo da relação analítica) é, ela própria, um fragmento da repetição; a repetição é uma transferência do passado esquecido.
Porém, o manejo da transferência é o instrumento principal para transformar a compulsão à repetição e transformá-la num motivo para recordar.
Concedendo-lhe o direito de afirmar-se num campo definido (campo analítico/transferencial), no qual tudo o que se encontra oculto na mente do paciente possa ser revelado, criam-se condições favoráveis para que as resistências possam ser superadas e com elas as lembranças despertadas.
Ainda que se conceda tempo ao paciente para conhecer melhor as suas resistências a fim de elaborá-las e superá-las, é preciso admitir e reconhecer que uma dada “(..) tarefa árdua para o sujeito da análise e uma prova de paciência para o analista” estarão sempre presentes nesse playground e campo definido no qual tudo o que está escondido pode ser revelado.
A elaboração das resistências “(…) trata-se da parte do trabalho que efetua as maiores mudanças no paciente e que distingue o tratamento analítico de qualquer tipo de tratamento por sugestão.
FREUD, S. Recordar, repetir e elaborar (Novas recomendações sobre a técnica da Psicanálise II) In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, Volume XII. Trad. Sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro, Imago, 1994