Uma parceira sedutora – Crônica Psicanalítica
Entrou na sala da analista com os cabelos em desalinho e com aquela velha e conhecida inquietação no olhar…
Deitou-se no divã e sem vaidade e pudor se deixou apoderar pelas palavras.
Havia saído do mar da noite e já não podia esconder os efeitos do marulhar das ondas em seu corpo.
Mas o êxtase logo se extinguiu e, como um náufrago, sem bússola ou direção, se afogou nas suas reminiscências, nos seus desencontros e desatinos, nos desdobramentos da sua juventude.
Feito uma sombra ácida e pegajosa ela me contamina…
Você já sabe seu nome; não é preciso pronunciar…
Sorrateira, silenciosa e venenosa como uma serpente, ela me enlouquece e me alucina. A mais fiel e sedutora parceira.
Quem diria!
Permaneço desamparado e sem norte.
E numa espécie de sedutor às avessas, agora sou servo dos meus pecados; dos meus insaciáveis ímpetos juvenis…
Elas se vingam. Todas elas. Uma a uma…
E da forma mais cruel, mais repugnante, incontrolável e ameaçadora das maneiras.
Como um filhote assustado em noites que nunca terminam, permaneço acuado e perseguido por essa que não cessa de deitar-se em minha cama; na mais sedutora e absoluta nudez.
Quem diria!
Aquela que eu jamais elegeria!
Que ironia e (des) graça!
Como uma mulher enredada em todo meu ser…
A insônia…minha insônia..
A medusa de olhares fatais…
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