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Vera Canhoni

Psicanálise: A criatividade no contexto da prática clínica

Psicanálise: A criatividade no contexto da prática clínica 

 

Criatividade e viver criativamente

Ao examinar a criatividade a partir de outro ponto de vista e perspectiva Winnicott afirma que é preciso ir um pouco além do enfoque da produção e/ou criação das “obras de arte” quando nos referimos àquilo que pode estar no âmbito da criatividade.

É verdade que uma criação pode ser um quadro, uma casa, um jardim, um vestido, um penteado, uma sinfonia ou uma escultura; tudo, desde uma refeição preparada em casa.

Ampliando um pouco a ideia da criatividade o autor parte do entendimento de que viver criativamente constitui um estado saudável, ou seja, capacita uma pessoa a tomar parte em sua vida de modo ativo sem ser prejudicado por fatores ambientais que possam sufocar seus processos criativos.

Contribuição pessoal e original ao longo da existência

Para Winnicott, um potencial criativo pode ser reconhecido […] não tanto pela originalidade de sua produção, mas pela sensação individual da realidade da experiência e do objeto.

Sendo assim,  permanecemos muito próximos à ideia de que o reconhecimento da criatividade em potencial – base da contribuição pessoal e absolutamente original que cada um é capaz de realizar – se desdobrará no contínuo processo de uma existência.

O impulso criativo, portanto, é algo que pode ser considerado como uma coisa em si, algo naturalmente necessário a um artista na produção de uma obra de arte, mas também algo que se faz presente quando qualquer pessoa – bebê, criança, adolescente, adulto ou velho – se inclina de maneira saudável para algo ou realiza deliberadamente alguma coisa, (…) – a fim de que seu impulso criativo possa tomar forma e o mundo seja testemunha dele.

Criatividade no contexto da prática clínica

Mas, e em relação ao contexto da prática clínica? Como a criatividade se estabelece no âmbito do trabalho analítico; no encontro entre analista e analisando?

De certo modo, boa parte daqueles que procuram vivenciar uma experiência analítica não só pretendem abrir um campo fértil para a continuidade das suas experiências como dar forma ao seu potencial criativo e aos estados mais espontâneos de ser.

Desse modo, oferecer e dar lugar às contribuições mais originais do paciente como acesso aos seus estados saudáveis não só favorecerá a recuperação das facetas de sua criatividade, bem como promoverá o enriquecimento de suas experiências e vivências mais pessoais.

Experimentando e fruindo de sua capacidade de viver criativamente o paciente conquistará a oportunidade para viver a vida na base da originalidade e singularidade em oposição à subordinação de seus estados de ser.

Para tanto, é indispensável que o psicanalista, munido e nutrido de sua própria criatividade, sustente – através da sua escuta, dos seus cuidados e intervenções – as formas mais particulares e inéditas daqueles que vêm ao encontro de uma experiência psicanalítica.

 

Eventos

 

WINICOTT. D.W. A criatividade e suas origens. In: D.W.Winnicott. O Brincar e a Realidade. Trad. José Octavio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Revisão: Francisco de Assis Pereira. Rio de Janeiro: Imago, 1975. (Trabalho original publicado em 1971)

______. Da teoria do instinto à teoria do ego: estabelecimento da relação com a realidade externa. In: D.W.Winnicott.  Natureza Humana. Trad. Davi Litman Bogomeletz. Rio de Janeiro: Imago, 1990. (Trabalho original publicado em 1962)

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