Sintomas e alienação – Bordas do inconsciente
Sintomas: formação e construção
Sabemos que os sintomas não se estabelecem a partir dos processos conscientes, mas sua formação depende de uma estreita relação entre os processos inconscientes e as experiências mais singulares de cada sujeito.
Há em sua construção um conjunto de defesas, certa formação de compromisso entre as diferentes instâncias psíquicas e/ou acordos entre duas correntes opostas: o reprimido e as forças repressoras.
O sintoma tem sentido – linguagem inconsciente
No entanto, não basta “conhecer” a constituição dos sintomas para que eles sejam removidos ou deixem de existir.
Ainda que o caminho dos sintomas se torne mais claro na medida em que o trabalho da análise preenche as lacunas da memória (inconsciente-consciente) uma mudança significativa só decorre quando o paciente responsabilizar-se pela linguagem de seu inconsciente.
Alienação e covardia – trabalho da análise
Em outras palavras, quando cada um for capaz de se encarregar de seus desejos e dos efeitos de seu inconsciente sobre si mesmo, sobrará pouco espaço para a alienação covarde, como Freud não hesitou em apontar….
“O trabalho da psicanálise não é o de comunicar ao sujeito os “conteúdos” de seu inconsciente, mas introduzi-lo a esta outra razão que age nele, e da qual ele se defende, covardemente, como escreve Freud, através de seu sintoma.
O que o neurótico não quer saber, e disto ele foge através de seu sintoma e de todas as formas de alienação que encontrar (…) é que ele está condenado a desejar. (…) O que o neurótico não quer é escolher, não quer se responsabilizar por seu desejo.
Responsabilizar-se pelo desejo, no limite, é viver a diferença radical que faz de cada um de nós um solitário, um singular, um estranho – o que é insuportável numa sociedade de massas.”
Maria Rita Kehl
Kehl. M.R. A mínima diferença: masculino e feminino na cultura. Rio de Janeiro, Imago 1996.