Psicanálise e inconsciente – Freud em pequenas doses
O ego não é senhor nem mesmo em sua própria casa…
Ao enfatizar o inconsciente na vida mental, conjuramos a maior parte dos maus espíritos da critica contrário à psicanálise.
Não se surpreendam com isso, e não suponham que a resistência contra nós se baseia tão-somente na compreensível dificuldade que constitui o inconsciente ou na relativa inacessibilidade das experiências que proporcionam provas do mesmo.
A origem dessa resistência, segundo penso, situa-se em algo mais profundo.
No transcorrer dos séculos, o ingênuo amor próprio dos homens teve de submeter-se a dois grandes golpes desferidos pela ciência.
O primeiro foi quando souberam que a nossa Terra não era o centro do universo, mas o diminuto fragmento de um sistema cósmico de uma vastidão que mal se pode imaginar.
O segundo golpe foi dado quando a investigação biológica destruiu o lugar supostamente privilegiado do homem na criação, e provou sua descendência do reino animal e sua inextirpável natureza animal.
Mas a megalomania humana terá sofrido um terceiro golpe, o mais violento, a partir da pesquisa psicológica da época atual, que procura provar ao ego que ele não é senhor nem mesmo em sua própria casa, devendo, porém, contentar-se com escassas informações acerca do que acontece inconscientemente em sua mente.
Os psicanalistas não foram os primeiros e nem os únicos que fizeram essa invocação à introspecção; todavia, parece ser nosso destino conferir-lhe expressão mais vigorosa e apoiá-la com material empírico que é encontrado em todas as pessoas.
Em conseqüência, surge a revolta geral contra nossa ciência, o desrespeito a todas as considerações de civilidade acadêmica e a oposição se desvencilha de todas as barreiras da lógica imparcial.
E ademais, perturbamos a paz deste mundo também de outra forma conforme em breve os senhores ouvirão.
FREUD, S. Conferências Introdutórias sobre Psicanálise (parte III) In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, Volume XVI. Trad. Sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro, Imago, 1994.
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