Bordas do inconsciente
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– Não tem nome nem lugar.
– Repito a razão pela qual quis descrevê-la: das inúmeras cidades inimagináveis, devem-se excluir aquelas em que os elementos se juntam sem um fio condutor, sem um código interno, uma perspectiva, um discurso.
– É uma cidade igual a um sonho: tudo o que pode ser imaginado pode ser sonhado, mas mesmo o inesperado dos sonhos é um quebra-cabeça que esconde um desejo, ou então o seu oposto, um medo.
– As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam uma outra coisa.
– Eu não tenho desejos nem medo – declarou o Khan – e, meus sonhos são compostos pela mente ou pelo acaso.
– As cidades também acreditam ser obra da mente ou do acaso, mas nem um nem outro bastam para sustentar as suas muralhas.
– De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas as respostas que dá às nossas perguntas.
– Ou as perguntas que nos colocamos para nos obrigar a responder, como Tebas na boca da Espinge.
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. Companhia das Letras, 1990, 1ª ed [Le città invisibili, 1972] tradução: Diogo Mainardi.
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