A capacidade para ficar só – Winnicott em pequenas doses
A capacidade de ficar só é um fenômeno altamente sofisticado e tem muitos fatores contribuintes.
Está intimamente relacionada com a maturidade emocional.
A base da capacidade de ficar só é a experiência de estar só na presença de alguém.
É somente quando só (isto é, na presença de alguém) que a criança pode descobrir sua vida pessoal própria.
Quando só no sentido em que estou usando o termo, e somente quando só, a criança é capaz de fazer o equivalente ao que no adulto chamamos relaxar.
A criança tem a capacidade de se tornar não-integrada, de devanear, de estar num estado em que não há orientação, de ser capaz de existir por um momento sem ser alguém que reage as contingências externas nem uma pessoa ativa com uma direção de interesse ou movimento.
É somente sob essas circunstâncias que a criança pode ter uma experiência que é sentida como real.
Nesse sentido uma criança com uma organização fraca do ego pode ficar só por causa de um apoio de um ego consistente.
Gradualmente, o ambiente auxiliar do ego é introjetado e construído dentro da personalidade do indivíduo de modo a surgir a capacidade de estar realmente sozinho.
O indivíduo que desenvolveu a capacidade de estar só está constantemente capacitado a redescobrir o impulso pessoal, e o impulso pessoal não é desperdiçado porque o estado de estar só é algo que (embora paradoxalmente) implica sempre que alguém está ali.
Há sempre alguém presente, alguém que é, no final das contas, equivalente inconscientemente, à mãe, à pessoa que, nos dias e semanas iniciais, estava temporariamente identificada com seu lactente, e na ocasião não estava interessada em mais nada que não fosse seu cuidado.
Eventos
WINNICOTT. D.W A capacidade para estar só. O Ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Trad. Irineo Constantino Schuch Ortiz. Porto Alegre: Artmed, 1983 (Trabalho original publicado em 1958)