Bordas do inconsciente: perder o nada é um empobrecimento
Meu fado é o de não saber de mim quase tudo.
Por isso sobre o nada eu tenho profundidades.
E eu disse no Livro sobre nada que “perder o nada é um empobrecimento”.
De que eu iria falar então se eu acho que o nada é tudo?
Todas as palavras, inclusive “pó”, estão emprenhadas de nada. Isto é: estão emprenhadas do que nos tornaremos.
Como posso acreditar que somos alguma coisa mais que nada?
Não tenho esse poder divino.
Cresci nos desvãos de mim. E não sei sair dele.
Acho que poderoso não é o homem que descobriu o ouro, mas o homem que descobriu o nada.
Sei que isso é negativo, mas eu não sei passar por cima de mim.
Manoel de Barros
Muller, A. Manoel de Barros, Rio de Janeiro Beco do Azougue, 2010