Psicanálise – memória e testemunha – superação do trauma
Em psicanálise, a pergunta sobre a memória refere-se, sobretudo, ao trauma: aquilo que não se consegue esquecer, mas que, ao mesmo tempo, é intolerável recordar. Ou impossível de se transmitir. (….)
Para explicar a importância do outro na reconstrução da memória, fundamental na superação do trauma, Gagnebin resgata os dois sentidos do conceito de testemunha.
Testemunha, nesse caso, não seria somente aquele que viu com os próprios olhos (o horror), a testemunha direta.
Nas palavras de Gagnebin – os sentidos do conceito de testemunha
Testemunha também seria aquele que não vai embora, que consegue ouvir a narração insuportável do outro e que aceita que suas palavras revezem a história do outro: não por culpabilidade ou por compaixão, mas porque somente a transmissão simbólica, assumida apesar e por causa do sofrimento indizível, somente essa retomada reflexiva do passado pode nos ajudar a não repeti-lo infinitamente, mas a ousar esboçar uma outra história, e inventar o presente.
Trabalho da memória – superação traumas – esquecimento
Existe, portanto, um trabalho da memória que é fundamental para a superação dos traumas individuais e coletivos.
Trabalho implica transformação de uma coisa em outra, trabalhar a memória é transformar seus resíduos, de modo a que eles se incorporem aos termos da vida presente sem que precisem ser recalcados.
É o trabalho da memória que permite o verdadeiro esquecimento, o desligamento das cargas libidinais fixadas às representações da cena traumática.
Maria Rita Khel
Kehl, M.R. Ressentimento; Coleção Clinica Psicanalítica: São Paulo. Casa do Psicólogo, 2004
Bresciane, S. Naxara, M. (org). Memória e (re) sentimento: indagações sobre uma questão sensível. 2 ed. Campinas, SP. Editora Unicamp, 2004