Estado deprimido – Degustação Psicanalítica
Não somente cada estado deprimido dispõe de sua própria singularidade, mas as modalidades variáveis sob as quais a depressão se apresenta proíbem que se fixe um procedimento técnico de ordem sistemática.
Seria melhor dizer que a experiência clinica nos torna atentos, na maioria dos casos – para não dizer em todos os casos que a depressão se manifesta claramente -, para a importância decisiva da posição atribuída à duração das sessões e à sua regularidade.
Problemática do tempo – dimensão intersubjetiva
Essa importância deve-se a uma relação direta com a problemática do tempo em sua própria dimensão intersubjetiva.
Ferenczi já chamara atenção precisamente para essa característica do traumatismo, consistindo no ataque à vida psíquica naquilo que ela tem de vivo, ou seja, nessa capacidade de desdobramento e de transformação dos tempos implicados na fala que conta, que evoca, que deseja, que lamenta, etc.
A modulação tonal dos afetos sentidos – restituída pela transferência na análise – passa por uma fala que dispõe do tempo para falar.
Paciência receptiva que dá tempo – liberdade – ritmo de pensamento e expressão
E não é raro que os pacientes dêem mostras de ter sofrido brutalização por um dos genitores, ou por outro adulto, no momento em que queriam falar, explicar-se, colocar questões, expressar o que estavam vivendo ou que tinham vivido.
É por isso que Ferenczi recomendava que se oferecesse essa paciência receptiva que dá tempo.
Esse desdobramento da fala na duração permite que o paciente descubra o que não conhecia: o sentimento de ser escutado na liberdade de seu próprio ritmo de pensamento e expressão.
Pierre Fédida
Fédida, P. Dos benefícios da depressão elogio da psicoterapia: Pierre Fédida tradução de Martha Gambini. São Paulo Escuta, 2002