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Vera Canhoni

Poesia – Cecília Meireles – Campo – vem ver o dia crescer

Poesia – Cecília Meireles – Campo – vem ver o dia crescer

 

Vem ver o dia crescer entre o chão e o céu,

o aroma dos verdes campos ir sendo orvalhado na alta lua.

Os bois deitados olham a frente e o longe, atentamente,

Aprendendo alma futura nas harmonias distribuídas.

O mesmo sol das terras antigas lavra nas pedras estrelas claras.

Nem as nuvens se movem. Nem os rios se queixam.

Estão deitados, mirando-se, dos seus opostos lugares,

e amando-se em silêncio, como esposos separados.

Neste descanso imenso, quem te dirá que viveste em tumulto,

e houve um suspiro com teu lábio, ou vaga lágrima em teus dedos?

Morreram as ruas desertas e os seus ávidos habitantes

ficaram soterrados pelas paixões que os consumiam.

A brisa que passa vem pura, isenta, sem lembrança.

Tece carícia e música nos finos fios do arrozal.

Em tua mão quieta, pousarão borboletas silenciosas.

Em teu cabelo flutuarão coroas trêmulas de sombra e sol.

Tão longe, tão mortos, jazem os desesperos humanos!

E os corações perversos não merecem o convívio sereno das plantas.

Mas teus pés andarão por aqui entre flores azuis,

e o seu perfume te envolverá como um largo céu.

O crepúsculo que cobre a memória, o rosto, as árvores,

Inclinará teu corpo, docemente, em sua alfombra.

Acima do lodo dos pântanos, verás desabrochar o vôo branco das garças.

E acima do teu sono, o vôo sem tempo das estrelas.

 

 

Que tal deixar um comentário ou contar como esta poesia te inspirou?

Será que ela abriu algum dos seus sentidos?

 

Meireles, C. Obra poética.  Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar S/A, 1987

 

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