Linguagem poética e experiência analítica – parte 2/3 – Psicanálise – Vera Canhoni
Linguagem poética e experiência analítica
Penetrar no reino das palavras
Em face à recomendação de penetrar no reino das palavras – por meio dos questionamentos e intervenções – não só encontraríamos as passagens de acesso ao mundo da linguagem em sua forma “definitiva e concentrada no espaço”
como também os caminhos para potencializar, na dinâmica psíquica de nossos analisandos, os elementos transformadores que se organizam na esfera e campo da realidade compartilhada das palavras.
Desse modo, como alusão à ação do penetrar, a escuta analítica estaria em conformidade com o registro próximo ao ato de descobrir, descortinar ou desvendar algo que jaz no campo da interioridade do analisando e se anuncia por meio das palavras pronunciadas.
Desprendimento ato de escutar
Em outro registro, porém, no exercício do desprendimento do ato de escutar, permaneceríamos mais próximos à maneira que os termos surdamente/secretamente aludem e aconselham;
para então, resguardar a área ou espaço (potencial) que cada um abriga em seu próprio ser.
Ainda assim, vinculados com o advérbio que o termo surdamente é capaz de exprimir sustentaríamos a inclinação para não aprisionar as palavras ou o discurso de nossos analisandos em uma única significação.
Admitir uma série de múltiplos, infinitos e intangíveis sentidos e significados preservará as mil faces secretas das palavras a fim de resguardar o que há de mais recôndito no ser do analisando, a saber, a necessidade de permanecer secretamente isolado.
Escuta analítico-poética
De maneira geral, reconhecer a sutileza dessa espécie de convocação – penetra surdamente no reino das palavras – alude à escuta analítica no terreno do espaço potencial e, portanto, no campo do paradoxo.
Desse modo, quando o analista é capaz de oferecer, no invólucro do espaço potencial, uma escuta analítico-poética cada analisando revelará, indubitavelmente,
“(…) com seu poder de palavra e seu poder de silêncio (…)” a capacidade guardada no âmago de si mesmo para criar e (re) criar-se na sua peculiaridade e diferença.
Linguagem poética e experiência analítica – parte 3/3 – Psicanálise – Vera Canhoni
DRUMMOND de ANDRADE, C. Obra completa, Rio de Janeiro: GB, Companhia José Aguilar, 1967.
WININICOTT, D. W. Comunicação e falta de comunicação levando ao estudo de certos opostos. In: O Ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artmed, 1983.