Do dito dificultoso e entrançado: a matéria vertente – Bordas do inconsciente
Do dito dificultoso e entrançado – a matéria vertente
Eu sei que isso que estou dizendo é muito dificultoso, muito entrançado.
Mas o senhor vai avante. Invejo é a instrução que o senhor tem.
Eu queria decifrar as coisas que são importantes.
E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente.
Do medo e da coragem – da gã que empurra a gente
Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder.
O que induz a gente para más ações estranhas é que a gente está pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!
Passado e pertença
Sendo isto. Ao doido, doideiras digo. Mas o senhor é homem sobrevindo, sensato, fiel como papel, o senhor me ouve, pensa e repensa, e rediz, então me ajuda.
Assim, é como conto.
Antes conto as coisas que formaram passado para mim com mais pertença.
Falo do sertão – do que não sei
Vou lhe falar. Lhe falo do sertão.
Do que não sei.
Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe.
Só umas raríssimas pessoas – e só essas poucas veredas, veredazinhas.
O que muito lhe agradeço é a sua fineza de atenção.
Foi um fato que se deu, um dia, se abriu. O primeiro. Depois o senhor verá por quê, me devolvendo minha razão.
João Guimarães Rosa
E assim viaja a escuta do psicanalista…
Veredas…
Veredazinhas que formam passado e pertença…
Matéria vertente…
Sertão!!
Um grande sertão!
ROSA, G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986
Eventos