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Vera Canhoni

Processo de elaboração e reelaboração – parte 1/2 Escrita: endereçamento e experiência

Processo de elaboração e reelaboração: palavras – ritmos e caos

 

As entrevistas de Manoel de Barros dão testemunho de que a sua arte passa por um delicado, mas rigoroso, processo de elaboração e de reelaboração.

Quem já viu os “cadernos de caos”, que ele fabrica e onde escreve fartamente, a lápis, com letrinha miúda, sabe que cada um de seus livros é o resultado de uma escolha criteriosa e mentada.

Sua prosa registra de forma notável seu processo de escrever:

Anoto tropos. Palavras que normalmente se rejeitam, eu caso, eu himeneio. Contigüidades anômalas, seguro com letras marcadas em meu caderno.

De repente uma palavra me reconhece, me chama, me oferece. Eu babo nela. Me alimento.

Começo a sentir que todos aqueles apontamentos têm a ver comigo. Que saíram dos meus estratos míticos.

As palavras querem me ser. Dou-lhes à boca o áspero. Tiro-lhes o verniz e os vôos metafísicos.

É o principio da contigüidade que rege assim a sua escritura, o que a leva mais para o domínio da metonímia do que para o da metáfora, o que pode ser um dos motivos que fazem a sua poesia tender mais para a prosa rítmica do que para o verso.

Da seleção do vocábulo exato, o poeta passa a trabalhar o ritmo da frase, que comanda tanto o verso quanto a prosa:

Corto o desejo de se exibirem às minhas custas.  

As palavras compridas se devem cortar como nós de lacraia.

O verso balança melhor com palavras curtas. Os ritmos são mais variados se você trabalhar com dissílabos, com monossílabos. Exemplo: Parou bem de frente pra tarde um tordo tonto.

Manoel de Barros

para continuar a leitura acesse:

https://www.veracanhoni.com/2017/08/28/processo-de-elab…arte-2-2-escrita/

Muller, A. Manoel de Barros, Beco do Azougue, 2010

 

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