Psicanálise e diversidade de propostas curativas – Degustação Psicanalítica
Joel Birman, num texto intitulado “Um futuro para a psicanálise” lembra, entre outros fatores que colocam em crise a psicanálise contemporânea, a disputa de mercado entre as propostas “curativas” (nem sempre garantidas) desta última e a diversidade de outras práticas medicinais, terapêuticas ou milagreiras.
Psicanalista – escuta do sintoma – singularidade
O furor sanandi a que se refere Freud criticamente é exatamente o oposto do que dever ser a atitude do psicanalista diante do sintoma: escutar o sintoma e suas repercussões, sem se deixar capturar por ele, exige uma certa atitude zen diante da demanda de cura do analisando.
É a partir do sintoma (e não do engajamento quanto à sua supressão) que o sujeito pode vir a dizer algo de significativo sobre sua singularidade, e retomar a “responsabilidade moral” sobre aquilo que ele, a princípio, nada quer saber.
A última coisa que interessa a uma análise – embora venha a ser, sim, um de seus efeitos – é a eliminação propriamente dita do sintoma. Isso, uma sociedade dita de “resultados” como a nossa dificilmente admite.
Nem por isso a psicanálise deve – ou pode – abandonar sua prática para competir com a eficácia de Prozacs e Lexotans, com o efeito do gozo obtido em técnicas corporais, terapias de vidas passadas, florais ou o que quer que seja que ofereça alívio rápido ao sofrimento.
Psicanálise – cura e responsabilidade pelo próprio desejo
A psicanálise implica uma ética em que o empenho em curar não deve partir do analista e sim do analisando, e nem todos querem deixar a doce alienação da posição de “paciente” para a posição de condutor de sua própria análise, com toda responsabilidade que esta implica – responsabilidade pelo próprio desejo.
O trabalho do psicanalista não consiste em descobrir uma verdade pré-existente sobre o sujeito e comunicá-la, mas em possibilitar que ela construa uma historia nova para si mesmo.
Maria Rita Kehl
Kehl. M.R. A mínima diferença: masculino e feminino na cultura. Rio de Janeiro, Imago 1996.