Poesia – Vinícius de Moraes – Poeta na madrugada
Quando o poeta chegou à cidade
A aurora vinha clareando o céu distante
E as primeiras mulheres passavam levando cântaros cheios.Os olhos do poeta tinham as claridades da aurora
E ele cantou a beleza da nova madrugada.As mulheres beijaram a fronte do poeta
E rogaram o seu amor.O poeta sorriu.
Mostrou-lhes no céu claro o pássaro que voava
E disse que a visão da beleza era da poesiaO poeta tem a alegria que vive na luz
E tem a mocidade que nasce da luz.As mulheres seguiram o poeta
Oferecendo a tristeza do seu amor e a alegria da sua carne
O poeta amou a carne das mulheres
Mas não envelheceu no amor que elas lhe davam.O poeta quando ama
É como a flor que murcha sem seivaPorque o amor do poeta
É a seiva do mundoE se o poeta amasse
Ele não viveria eternamente jovem, brilhando na luzQuando a nova madrugada raiou no céu distante
O poeta já tinha partidoE seguindo o poeta as mulheres de peitos fartos e de cântaros cheios
Falavam de ardentes promessas de amor.Vinícius de Moraes
MORAES, V. Poesia completa e prosa. Obra completa, Rio de Janeiro: GB, Companhia José Aguilar, 1974.