Bordas do inconsciente: silêncio do analista – advento da fala – Vera Canhoni
Silêncio do analista
A instauração do silêncio pelo analista é a “base” que este dá a um questionamento que convida à fala e que solicita sua liberdade de dizer. O silêncio é a insistência da questão, que o paciente pressente como sua própria resistência a dizer.
E a tentativa oral da fala abre-se para a angústia, no sentido em que a angústia seria o vazio do qual esta fala se pressente quando ela não sabe o que vai dizer.
Silêncio – espaço de abertura da palavra – advento da fala
É aqui que se pode falar de um salto no desconhecido: é nesse sentido que o silêncio do analista não é o comportamento de uma questão muda, mas sim um lugar de advento da própria fala, na qual sua habitual familiaridade para comunicar fica bruscamente desconcertada por encontrar-se literalmente em questão.
Assim, o silêncio que inaugura a abertura da palavra é um espaço – o espaço indicado como conveniente à fala para que ela venha a se escutar no que diz – e um tempo – tempo tanto da regressão tópica (sentido da associatividade) quanto da laboração (perlaboração e elaboração).
Fala humana – fala ambígua
E devemos acrescentar que a fala humana não é fala e humana senão pelo fato de ser fala ambígua. Esta condição, que a fala descobre simplesmente falando as palavras da língua comum, é também a condição do humor – rir de si, ou seja, do falso reconhecimento.
Como se pudéssemos pensar que a comunicação com os outros comporta a possibilidade da experiência de um oportuno desconhecimento! A língua é a comunidade humana: é isto que analista e analisando têm em comum!
Pierre Fédida
Fédida, P. Nome, figura e memória: a linguagem na situação psicanalítica. tradução de Martha Gambini e Claudia Berliner. São Paulo: Escuta, 1991
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