Luto e melancolia parte 1/2 – Freud em pequenas doses
Luto – reação à perda e superação
O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante.
Em algumas pessoas, as mesmas influências produzem melancolia em vez de luto; por conseguinte, suspeitamos de que essas pessoas possuem uma disposição patológica.
Embora o luto envolva graves afastamentos daquilo que constitui a atitude normal para com a vida, jamais nos ocorre considerá-lo como sendo uma condição patológica e submetê-lo a tratamento médico.
Confiamos em que seja superado após certo lapso de tempo, e julgamos inútil ou mesmo prejudicial qualquer interferência em relação a ele.
Melancolia – diminuição auto-estima, auto-recriminação e auto-acusações
Os traços distintos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade e uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação, culminando numa expectativa delirante de punição.
Se no luto é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego.
No quadro clínico da melancolia, a insatisfação com o ego constitui, por motivos de ordem moral, a característica mais marcante.
Melancolia – ambivalência nas relações amorosas
Se se ouvir pacientemente as muitas e variadas auto-acusações de um melancólico, não se poderá evitar, no fim, a impressão de que frequentemente as mais violentas delas dificilmente se aplicam ao próprio paciente, mas que, com ligeiras modificações, se ajustam a alguém que o paciente ama, amou ou deveria amar.
As auto-recriminações feitas a um objeto amado foram deslocadas desse objeto para o ego do próprio paciente.
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FREUD, S. A Historia do Movimento Psicanalítico: artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, Volume XIV. (1914-1916) Trad. Sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro, Imago, 1994.