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Vera Canhoni

Psicanálise: A confiança no ambiente e contexto analítico – parte 5/5 – Vera Canhoni

Psicanálise: A confiança no ambiente e contexto analítico – parte 5/5 – Vera Canhoni

 

Só há um modo de escapar de um lugar: é sairmos de nós.

 Só há um modo de sairmos de nós: é amarmos alguém. 

 Mia Couto

 

Relação analítica: aspectos incomunicáveis do self

Apoiada nas concepções de Winnicott referente aos modos por meio dos quais a comunicação pode vir a se constituir pensei que essa “carta” que não encontrou Estela podia revelar o quanto devemos na relação com o outro e, em especial na relação analítica, preservar os aspectos incomunicáveis do self.

As cartas/mensagens deixaram os vestígios de quão conectados devemos estar – quando no exercício de nossa prática clínica – com a faceta que nos faz sustentar na peculiaridade e singularidade de cada trabalho e processo analítico determinado ritmo, cadência, movimento e/ou modos de comunicar, garantindo a preservação do núcleo isolado do self.

Cuidado e preservação do núcleo isolado do self: mais além das palavras

Em outros termos, o quanto é necessário oferecermos oportunidade para que nossos analisandos possam preservar o núcleo do self  como um “lugar” inatingível, incomunicável e nunca encontrado, sobretudo porque, como diria Winnicott no “centro de cada pessoa há um elemento não-comunicável, e isto é sagrado e merece muito ser preservado.”

Nos cuidados e na preservação do núcleo isolado do self contemplamos o que há de mais misterioso ou contingente tocante aos encontros e (des) encontros, bem como, com àquilo que comunicamos, partilhamos e/ou evocamos para além do alcance das palavras.

Afinal! Como nos diz Guimarães Rosa:

Confiança o senhor sabe – não se tira das coisas feitas ou perfeitas: ela rodeia é o quente da pessoa.

Nesse modo poético de descrever as raízes da confiança estabelecidas no sertão afora de nossos encontros, o espaço do “ambiente analítico” em seus mais diversos desdobramentos é capaz de constituir – num tempo e lugar não apreensíveis – a singularidade das transformações. Se houver confiança e preservação do núcleo isolado do self, obviamente!

 

Eventos

 

Referências Bibliográficas:

COUTO, M. A Confissão da Leoa, Companhia da Letras, 2012

ROSA, G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

WININICOTT, D. W.  Comunicação e falta de comunicação levando ao estudo de certos opostos. In: D.W.Winnicott. O Ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Trad. Irineo Constantino Schuch Ortiz. Porto Alegre: Artmed, 1983.

 

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