Material e Memória dos sonhos – Freud em pequenas doses
Memória dos sonhos – escolha do material reproduzido – mais irrelevante e insignificante
A mais surpreendente e menos compreensível característica da memória dos sonhos é demonstrada na escolha do material reproduzido.
Pois o que se considera digno de ser lembrado não é, como na vida de vigília, apenas o que é mais importante, mas, pelo contrário, também o que é mais irrelevante e insignificante.
Freud cita autores que se expressaram a esse respeito:
Detalhes casuais – fragmentos sem valor e isolados – impressões corriqueiras e esquecidas
- o fato mais notável é que os sonhos extraem seus elementos não dos fatos principais ou excitantes, nem dos interesses poderosos e imperiosos do dia anterior, mas dos detalhes casuais, do fragmento sem valor, poder-se-ia dizer, do que se vivenciou recentemente, ou do passado mais remoto. (Hildebrandt)
- alguns componentes dos sonhos provêm de experiências tão sem importância e tão triviais, do ponto de vista da consciência de vigília, que foram esquecidas logo após sua ocorrência. Experiências como essas incluem observações acidentalmente entreouvidas, ações desatentamente observadas de outra pessoa, vislumbres passageiros de pessoas ou coisas ou fragmentos isolados do que se leu. (Strumpell)
- as emoções profundas da vida de vigília, os problemas pelos quais difundimos nossa principal energia mental voluntária, não são os que se costumam apresentar de imediato à consciência onírica (…) são basicamente as impressões corriqueiras, casuais e esquecidas da vida cotidiana que reaparecem nos sonhos. As atividades psíquicas mais intensamente despertas são as que dormem mais profundamente. (Havelock Ellis)
Memória – nada se perde inteiramente – impressão e traço inalterável
O modo como a memória se comporta nos sonhos é, sem sombra de dúvida, da maior importância para qualquer teoria da memória em geral.
Ele nos ensina que “nada que tenhamos possuído mentalmente uma vez pode se perder inteiramente” (Scholz) ou, que “qualquer impressão, mesmo a mais insignificante, deixa um traço inalterável, indefinidamente passível de voltar à luz.” (Delboeuf )
Essa é uma conclusão a que também somos levados por muitos fenômenos patológicos da vida mental.
FREUD, S. A interpretação dos sonhos (parte I) In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, Volume IV. (1900) Trad. Sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro, Imago, 1994