Poesia – Alberto Caeiro – verdade, mentira, certeza, incerteza
Verdade, mentira, certeza, incerteza….
Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.
Estou sentado num degrau alto e tenho as mãos apertadas
Sobre o mais alto dos joelhos cruzados.
Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza o que são?
O cego pára na estrada,
Desliguei as mãos de cima do joelho.
Verdade, mentira, certeza,incerteza são as mesmas?
Qualquer cousa mudou numa parte da realidade – os meus joelhos e a minhas mãos.
Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?
O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.
Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.
Ser real é isto.
Alberto Caeiro
PESSOA, F. Ficções do Interlúdio. organização Fernando Cabral Martins. São Paulo, Companhia das Letras, 1998