Travessias – Nascemos para o encontro com o outro
Breve pensamento de Helio Pellegrino em face ao possivel encontro com o outro.
Encontro com o outro
O homem quando jovem é só, apesar das suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio.
Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio.
Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade.
Face do outro – enigma e solidão
O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo.
Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo.
É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma.
Feliz daquele que, ao meio dia, se percebe em plena treva, pobre e nu.
Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro.
A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome.
Hélio Pellegrino
In: Sabino, F. O encontro marcado. Rio de Janeiro, Record,1981.