Escrita: endereçamento e experiência – estilo e ancestralidade
Do nosso estilo e ancestralidade: a falta e a linguagem como expressão àquilo que nos compele.
Do meu estilo não posso fugir. Ele não é só uma elaboração verbal. É uma força que deságua. A gente aceita um vocábulo no texto não porque o procuramos, mas porque ele deságua das nossas ancestralidades. O trabalho do poeta é dar ressonância artística a esse material. Penso que combinar o sentido com os sons é que produz o estilo. O barrismo há de acontecer nos meus textos porque vem de seu ser, de eu estar, de eu ter sido. Não há fugir. Estilo é estigma. É marca. Todo estilo contém as nossas ancestralidades. Ninguém consegue fugir do erro que é, do acerto que é. Vou ser sempre o que me falta. De forma que vou cair sempre no barrismo porque a gente é sempre uma falta de nós. Papel do poeta seja sempre o de obter o que falta nele. E falta tudo. Papel de poeta é obter uma linguagem que o complete. Esse objeto de linguagem que me completa há de ser meu estilo. O barrismo será sempre uma expressão de mim. Sou fiel ao erro que sou.
Manoel de Barros
Muller, A. Manoel de Barros, Beco do Azougue, 2010