Psicanálise: Na prática do psicanalista: o poema e o self. Parte 4/4
Na prática do psicanalista: o poema e o núcleo isolado do self.
Poeta e psicanalista – decifração
Afinal, no caráter problemático da decifração – ao escavar a relação amorosa/analítica ensaiando a decifração – o poeta (e também o psicanalista) penetra
[…] através das barreiras da terra, do corpo e da própria linguagem até o limite do indizível.
Desse modo, se esse poema demonstra as vicissitudes que se “lavram” nos encontros com os pacientes ele também representa as maneiras por meio das quais a escuta do psicanalista pode ser atravessada pela linguagem poética.
Ponte indispensável para garantir a incomunicabilidade do self e o enlace entre a solidão essencial, encontra-se o ato de decifração do psicanalista pois, ao mesmo tempo em que lavra e decifra preserva o núcleo isolado do self – fonte para as experiências de continuidade.
Contradições amor: enigma do outro e nós mesmos
Ainda encontramos no poema e no cotidiano da clínica analítica o caráter paradoxal das contradições do amor, bem como a interrogação sobre o enigma poético que envolve o enigma do outro e de nós mesmos.
Desse modo, sustentar no âmbito do reduto analítico o núcleo isolado do self pelas vias sutis dessa via encrencada do amor – do querer saber, decifrar ou lavrar, traz para a esfera do enigmático de toda relação aquilo que pode e deve ser acolhido, mas jamais apreendido.
Assim, na prática do psicanalista e por meio da linguagem e escuta poética é possível sustentar a base dessa comunicação profunda e silenciosa como forma de garantir, via amor e compromisso, a necessidade de todo ser humano de ser secretamente isolado.
ARRIGUCCI, Jr, D. Coração Partido: uma análise da poesia reflexiva de Drummond. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
DRUMMOND de ANDRADE, C. Obra completa, Rio de Janeiro: GB, Companhia José Aguilar, 1967.